Noni é um de seus nomes populares, é uma das plantas
medicinais tradicionais mais importantes na Polinésia, onde as indicações se
centravam primariamente na aplicação tópica das folhas, raízes e do fruto
verde. Existe um crescente interesse e uso popular do fruto de Morinda
citrifolia L. que tem sido promovido por diversas publicações populares,
incluindo a imprensa, que informam, ou melhor, desinformam, a população sobre supostas
propriedades comprovadas cientificamente que o noni possui; alguns chegam a
afirmar que o fruto alcança mais de 120 problemas de saúde que podem ser
tratados, e até curados, com a planta e seus extratos (RODRIGUEZ, 2004).
Nos últimos anos muitos estudos científicos encontram-se em execução e tratam de
demonstrar que o suco desta fruta contém atributos curativos, como compostos
antibacterianos, antiinflamatórios, analgésicos, hipotensivos e inibidores do
câncer. Estes estudos colocam o noni como um medicamento natural que reduz a
pressão sanguínea e a inflamação das articulações, detém as infecções internas
e externas, descongestiona e até evita o crescimento de células
pré-cancerígenas. Apesar de muitos dos efeitos não estarem comprovados
cientificamente, alguns estudos citam que entre as doenças tratadas com mais
efetividade estão: a alergia, artrites, asma, câncer, depressão, diabetes,
digestão, aumento da energia, doenças do coração, rins, ciclo menstrual,
doenças mentais, musculares, obesidade, dores de cabeça, apetite sexual,
insônia e stress. Mencionam, também, que alguns sintomas do HIV foram
diminuídos, assim como da esclerose e da paralise; e eliminaram o hábito de
fumar em mais de 50 % dos tratados para cada doença (LAVAUT, 2003).
Ao discutirmos a
composição deste fruto, sua toxicidade, a ação de seus componentes no organismo
e verificarmos se ela está comprovada cientificamente é que podemos chegar à
conclusão se estamos frente a um mito ou não.
COMPOSIÇÃO QUÍMICA E FUNÇÕES BIOLÓGICAS: Vários compostos
têm sido identificados neste fruto, por ordem de importância podemos
relacionar: terpenos, xeronina, damnacanthal, norepinefrina, escopoletina,
antraquinones, aminoácidos, fitonutrientes, morindona, morindina, acubina,
alzarina, ácido caproico, ácido caprílico. Os terpenos estão envolvidos em
processos como o rejuvenescimento celular ao aumentar a troca nutriente-toxina.
A norepinefrina estimula o sistema nervoso simpático; o damnacanthal é uma
substancia natural, utilizada para combater o câncer, e a xeronina ocasiona
reação no núcleo da célula, fazendo que as pessoas se sintam com mais energia
física e mental (LAVAUT, 2003).
O noni contém muitos alcalóides que se transformam em
xeroninas e ajudam o corpo humano a regenerar células danificadas e a
incrementar as defesas deste, de maneira natural; por isso a fruta serve para
prevenir ou melhorar muitos males que nos afetam (HIRAZUMI apud LAVAUT, 2003).
Uma das teorias mais utilizadas para explicar a função do
noni está relacionada com a proxeronina quando chega a partes específicas das
células, como as mitocôndrias, os microssomas, o aparelho de Golgi, o retículo
endotelial, os sistemas de transporte de elétrons, DNA, RNA e dentro destas
estruturas se combina com outros agentes bioquímicos naturais e blocos
construtores (hormônios, proteínas, enzimas, serotonina, vitaminas, minerais e
antioxidantes) onde age, pela corrente sanguínea, nas células do organismo.
Esta combinação se converte em xeronina, que ajuda a célula na sua reparação e
regeneração. Devido a essas propriedades, a xeronina intervém potencialmente no
corpo humano de muitas maneiras, que vão desde o aumento da vitalidade de una
pessoa até a redução da dependência das drogas. Os transtornos internos e
neurogệnicos também podem reagir positivamente à xeronina devido à sua
habilidade de normalizar as proteínas encontradas em todos os tecidos vivos
essenciais, até do cérebro (LAVAUT, 2003).
A função no organismo humano da escopoletina, outro
componente identificado neste fruto, é que se une à serotonina cuja presença
está associada com a diminuição da ansiedade e da depressão, com a regulação da
temperatura corporal e da atividade sexual, além de ser o precursor da
melatonina como regulador do sono, mostra atividade antihipertensiva,
antiinflamatória y antihistamínica (LEVAND apud LAVAUT, 2003).
Também são encontrados fitos nutrientes e selênio que são
poderosos protetores antioxidantes contra os radicais livres. Tem sido
identificados 17 aminoácidos dos 20 conhecidos, incluindo os 9 que se
consideram essenciais (DATABASE AP apud LAVAUT, 2003).
RECOMENDAÇÕES: Para obter benefícios com este consumo, temos
que considerar que seus constituintes voláteis são instáveis e facilmente
destruídos. Há uma preparação comercial em forma liofilizada de extrato de noni
que elimina esses fatores, cujo pó reconstituído utiliza-se como complemento
nos alimentos. Outro fator a considerar é que quando o estômago está vazio a
pepsina e o ácido estomacal pode destruir a enzima que libera a xeronina
(LAVAUT, 2003).
De acordo com um fabricante, recomenda-se 30 mL/dia, mas essa
porção não foi baseada em nenhum efeito farmacológico, nutricional ou
toxicológico; essa recomendação foi calculada com intenções de marketing, para
ser usado como um aperitivo e com a intenção de corresponder aos valores
nutricionais indicados nos EUA (EUROPEAN COMISSION, 2002).
Apesar de que os extratos se consideram seguros se são
utilizados diretamente e de que não foram encontrados efeitos colaterais ou
indesejados, as mulheres gestantes ou lactentes devem consultar um médico antes
de tomar o suplemento. Por outro lado, não se recomenda o consumo juntamente
com café, álcool ou nicotina. As interações entre medicamentos e o noni não são
conhecidas (LAVAUT, 2003).
CONSIDERAÇÕES: Estudos científicos tentam demonstrar a
validez do amplo uso tradicional desta espécie; no entanto, não há nada
realmente provado cientificamente sobre seus efeitos. Um estudo realizado por
Rodriguez (2004), que tinha como objetivo revisar e atualizar a informação
científica que existe sobre este fruto, utilizou como método a busca das
palavras Morinda citrifolia, Morinda litoralis ou Morinda bracteata para
realizar uma revisão nas bases de dados PubMed, COCHRANE, ESBCO, SCIELO,
LILACS, CUMED, MEDNAT, RECU até o dia 25 de junho de 2004.
Foi encontrado um total de 47 referencias nas bases
consultadas, onde somente cinco avaliavam, em modelos pré-clínicos, a maioria
in vitro, as atividades farmacológicas do suco de noni para uso relacionados
com o câncer e imune estimulação, assim como com a dor e a inflamação. Esse
estudo conclui que a informação científica disponível não permite validar o uso
e segurança da utilização do noni porque está limitada a estudos pré-clínicos
farmacológicos e precisa de um mínimo de investigações toxicológicas que
respaldem a segurança e isso é particularmente relevante em tratamentos para
problemas de saúde de complexidade como o câncer. Um outro estudo foi realizado
para averiguar a toxicidade do suco de noni; ele utilizou células hepáticas in
vitro expostas a este suco, como modelo para investigar a hepatotoxicidade
dele, que foi relatada em três pacientes. Não foi mostrado nenhum efeito tóxico
muito relevante no fígado, assim como também não foi encontrada nenhuma
genotoxicidade na exposição in vitro de bactérias e células mamárias ao suco de
noni. Então, este estudo conclui que o suco de noni é seguro para o consumo se
ele for produzido em condições controladas e não contenha aditivos não
indicados na embalagem. Podemos acrescentar que o uso popular e a interessante
informação científica que se têm a respeito da utilização deste fruto, e da sua
composição, nos fazem acreditar que há uma intensa necessidade de que se
aprofundem os estudos farmacológicos e toxicológicos, utilizando extratos do
fruto em pacientes. Concluímos, então, que as informações e o uso popular deste
fruto, geralmente são sem fundamento e ainda existem poucos trabalhos
publicados que validam cientificamente o seu uso.
Ariadna
JG Barrientos Estagiária curricular de Marketing Nutricional da Nutrociência,
FSP-USP